Patricia Segatto Palley
Gestora e consultora líder da AOO
Filha e neta de feirantes em uma São Paulo em plena década de 70 é onde começa a minha história. Foi do alto dos meus 8 anos de idade ajudando na barraca da minha avó na feira que aprendi a importância do trabalho e da responsabilidade de quem decide empreender. Ganhar o pão do dia é mais do que uma necessidade. Está no sangue de todo feirante. Ensinamentos que carrego comigo e dos quais me orgulho demais.
A feira é um dos ambientes mais democráticos que existem porque dá a oportunidade para que todos tenham o direito de prover seu ganha-pão. Muitos trabalhavam pela diária ajudando na montagem das barracas, limpando frango ou vendendo limões. Analfabetos, estrangeiros sem documentação, travestis e tantos outros encontravam ali o espaço que não tinham em nenhum outro lugar. A diversidade está no DNA da feira desde sempre e foi lá que entendi de verdade a sua importância.
Girar a economia é ajudar com dignidade. O risco do feirante é alto pq o fresco hoje, amanhã pode estar estragado e uma semana de chuva pode prejudicar uma cadeia inteira de valor. Por isso a colaboração faz parte do dia-dia do feirante. Um socorre o outro mesmo na dificuldade para amenizar perdas e prejuízos.
A caderneta de fiado durante muito tempo foi o cartão de crédito das famílias de média e baixa renda. Mas ela não era só um instrumento informal de crédito, a caderneta gerava relacionamento para convidar o cliente para olhar uma novidade da barraca de roupas ou fazer uma solicitação especial de fruta. Sim, o comércio inteligente começou na feira.
Essa vivência tão intensa acabou despertando em mim uma busca constante por novas perspectivas e novas formas de fazer. Meus sonhos na época passavam pelas conquistas de poder fazer faculdade, viajar para conhecer culturas e conquistar independência financeira. Mas não paravam por aí.
Com o passar do tempo entendi que todos esses sonhos e curiosidades sempre tiveram como alicerce um propósito claro: iniciativas e experiências que estivessem ABRINDO O MEU OLHAR. Orquestrar projetos inovadores, liderar times, recomendar estratégias, além de compartilhar aprendizados nas áreas de comunicação e marketing nos últimos 25 anos me fizeram perceber que a evolução em uma carreira profissional como empregado, empreendedor, artista ou autônomo cresce proporcionalmente a abertura do olhar que nos permitimos dar.
